Ana Raspini é viajante, além de professora de Inglês, e escritora.

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Brasileira, professora de Inglês, escritora, mas acima de tudo, viajante.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Casamento de Duas Culturas

A Rode, do blog Entre Duas Culturas, escreveu há algum tempo um texto chamado “Casamento Binacional”, sobre seu casamento com um alemão. Rode mora na Alemanha e já falava alemão antes de conhecer seu esposo.

Vivo um caso parecido com o da Rode, porém ao contrário: Sou brasileira, casada com um alemão, mas moramos no Brasil e falamos português em casa. Inspirada no texto da Rode, vou falar (um pouco) das minhas impressões sobre compartilhar a vida com alguém de uma cultura tão diferente da minha.

Deixa eu começar falando das coisas que são rotineiras, aquelas diferenças em que esbarramos diariamente. Alemães tomam banho pela manhã, brasileiros tomam banho antes de dormir (ou, pelo menos, eu e minha família fazemos assim). Eu tomo banho antes de dormir porque, para mim, a cama é sagrada, ela é limpa e deve permanecer assim para que meu sono tenha qualidade. Não imagino deitar na cama carregando toda a poeira de todos os lugares onde estive durante aquele dia. Eu achava estranhíssimo ele tomar banho pela manhã, e quando o questionava sobre isso, ele dizia que aquilo o ajudava a acordar. Porém, eu precisei ler o blog de uma Australiana que viveu no Brasil e fez um post sobre as curiosidades dos brasileiros para entender o porquê do banho matinal (juro que procurei pelo link, mas acho que ele se perdeu no cyber espaço). Lembro que ela dizia que não entendia como os brasileiros conseguiam acordar e sair na rua com o cabelo amassado da cama! Foi então que um outro mundo se abriu diante dos meus olhos! Depois da união dessas duas explicações, não acho mais o banho matinal estranho.

Outra coisa que levei algum tempo para me adaptar foram os eternos lenços de papel no bolso. Todo alemão carrega um lenço de papel (Tempo) no bolso e assoar o nariz é algo aceitável em qualquer situação, até na mesa do jantar! Confesso que eu também já carrego meu pacotinho de Tempo comigo o tempo todo, mas se preciso assoar o nariz na mesa, viro pro lado e tento não fazer barulho.

Uma diferença que eu, na verdade, admiro é a capacidade do alemão em dizer “não”. Vocês já notaram que brasileiros não dizem “não”? É sempre “talvez mais tarde”, ou “quem sabe amanhã”, ou “vou ver com fulano”... Eu, honestamente, acho pouco saudável essa incapacidade de dizer “não”. O brasileiro acha que o “não” é mal-educado, que declinar um convite é rude e acaba fazendo coisas que não quer! Alemães dizem “não” assim, na cara, sem rodeios, e não ache isso grosseiro, pior seria dizer “sim” sem querer!

Mas também existem similaridades, muitas, aliás! Meu esposo nasceu e cresceu numa cidade pequena, com aproximadamente 13 mil habitantes. Uma cidade tranquila, com natureza ao redor. Ele não foi o tipo de criança que acreditava que vacas são lilases porque a vaca do chocolate Milka é lilás! Eu sou do interior, do meio do mato mesmo, e gosto muito desse traço em comum que temos. Seria muito difícil me identificar com um cara urbano, que nunca viu um cavalo ou que nunca comeu fruta do pé.

Outra semelhança que temos é a culinária. Meu esposo vem de uma família com tradição de cozinhar, de fazer coisas caseiras: geléias, bolos, biscoitos... A família dele gosta de carne e consome, principalmente, carne de porco. Se ele fosse vegetariano, seria, com certeza, um problema para minha família gaúcha-carnívora-churrasqueira.

É claro que, às vezes, é chato o fato de ele não entender citações da TV Colosso ou piadas do Chaves, ou não ter assistido aos mesmos desenhos animados que eu assisti. Mas fico feliz por ele já conhecer Sepultura e ter aprendido a gostar de Engenheiros do Hawaii. E eu estou aprendendo a gostar de Rammstein.

Não é possível mencionar num único texto todos os nuances da interação diária entre duas culturas. Quem sabe um dia eu escreva um adendo, ou mais. Mas se existe alguém aí na dúvida sobre encarar um relacionamento com alguém de outro país eu digo: vai fundo! Viver com alguém de outra cultura é um aprendizado diário, uma redefinição contínua sobre quem se é e porque fazemos as coisas do jeito que as fazemos, um eterno redescobrimento da raça humana!

2 comentários:

  1. Eu gosto mais do meu cabelo depois de uma noite amassado no travesseiro. :)

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    1. haha! verdade! cabelos lisos tendem a ficarem mais lisos "amassados"... eu sou crespa, ou seja, deitar = destruir! hehe!

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